Há quinze ou vinte anos eu não teria partilhado destas teorias, pela simples razão de que não havia analisado o meu próprio estilo de condução. Aplicava as mesmas técnicas, até certo ponto, mas compreendia, de certeza, todos os elementos envolvidos.
Por isso, em termos puramente mecânicos de técnica de condução, volto a salientar que não há nada que tenha feito ao volante de um carro de série que não se pudesse aplicar num carro de corridas - e vice-versa. A forma como se aplica a técnica de condução é, na realidade, muito variada, encaixando-se num conjunto diferente de prioridades, mas basicamente a técnica é sempre a mesma. Acima de tudo, espero que as minhas experiências ajudem outros condutores - tanto os experientes como os inexperientes - a identificar os diversos aspectos do comportamento de um carro, e que os ajude a compreender a ligação directa que existe entre estes dois campos diferentes.
Vejamos agora a manobra de ultrapassagem.
Eu evito sempre conduzir num ponto encoberto, por detrás de veículos pesados. Para além do facto de poder dar a esses condutores um choque desagradável ao ver um relâmpago de metal a sair, aparentemente, debaixo as suas rodas traseiras, também pode ser muito desconcertante para os condutores que vêm do lado contrário ver um carro aparecer literalmente saído do nada. Um ultrapassagem calma e progressiva, é uma forma muito mais simpática de conduzir. Pode conduzir sem, de facto, sentir qualquer movimento significativo proveniente do carro, se o fizer de forma correcta.
Pode praticar, desenvolvendo a sua técnica como condutor consciencioso sempre que sair com o carro, quer seja dirigindo-se ao escritório, que numa viagem de férias ou num passeio casual à tarde. A necessidade de transformar a condução numa viagem suave e agradável, significa que tem de se concentrar e conduzir o carro durante toda a viagem. Cada paragem, mesmo que seja num engarrafamento, transforma-se num desafio, cada mudança de velocidade numa oportunidade de aperfeiçoamento.
Espero que alguns jovens condutores leiam esta brochura, pois preocupo-me particularmente com a sua apetência para desenvolver, desde o início, o orgulho na sua própria condução. Por muito que eu admire a juventude - e que algumas vezes sinta até saudades desse tempo -, essa é uma altura vocacionada para a aprendizagem e desenvolvimento. Lembro-me da forma como a exuberância da juventude me conduziu a inúmeros acidentes entre os 17 e os 20 anos. Mas estou seguro de que os bons hábitos adquiridos numa idade em que os condutores estão receptivos a novas ideias ficarão com eles durante toda a sua vida de condutores.
Acima de tudo, deveríamos ter sempre em mente que o lugar da velocidade é nas pistas de corrida. Não é, por forma alguma, na estrada.
Todos nós temos capacidade para reter aperfeiçoamentos da nossa experiência diária de condução na estrada, mas é algo que, para ser alcançado, requer um esforço consciencioso e um certo grau de empenhamento. Não há nada de mágico nisso, apesar de todos nós, provavelmente, acreditarmos que somos melhores condutores do que na realidade o somos. Dizem que só existem duas formas de insultar, verdadeiramente, uma pessoa: uma, é dizer que é um mau amante. Outra, um mau condutor. Nunca ninguém ficará convencido de qualquer dos argumentos!
By Jackie Stewart
Posted by MB
domingo, 30 de novembro de 2008
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